Por Carlos Lima
A língua é um conjunto de músculos e é a única estrutura do corpo capaz de se movimentar em todas as direcções. Encontra-se ligada ao osso hióide (situado ligeiramente da acima da cartilagem tiróide, conhecida como maçã de Adão), por músculos que movimentam toda a estrutura durante o processo de deglutição (engolir a comida mastigada); este movimento é fundamental, pois permite fechar a entrada para a traqueia através da epiglote. Encontra-se ligada ao maxilar superior, ao crânio e ao maxilar inferior através dos músculos extrínsecos (movimentam a língua mas não fazem parte da língua). Estes ajudam a manter a língua no seu lugar e dão suporte para o movimento dos músculos próprios da língua ou intrínsecos.
Os músculos da língua (intrínsecos) são quatro pares: os longitudinais superiores e inferiores, os transversos e os verticais. São responsáveis pelos movimentos e pelas alterações do volume da língua durante a mastigação, a deglutição e a fala. São pares porque a língua está praticamente dividida ao meio, mas funcionam independentemente, o que permite que a língua se movimente em todas as direcções.
O freio da língua mantem a língua presa no maxilar inferior, impedindo que ela obstrua a via aérea quando estamos relaxados ou a dormir.
A língua é muito sensível a vários estímulos, nomeadamente os tácteis, os dolorosos e os térmicos, mas é pelos gustativos que a distinguimos, devido ao facto de ser o nosso órgão especializado. As papilas gustativas encontram-se na parte superior em grande número e nos lados em menor número. Estão carregadas de células especializadas e transformam os sabores em estímulos nervosos que são enviados e interpretados no cérebro.
Até há pouco tempo, era reconhecida a capacidade de identificar quatro sabores, chamados sabores primários: doce, salgado, amargo e azedo; mas, a partir de 1985, foi acrescentado um novo: o umami (delicioso) que é uma palavra japonesa sem tradução. Está provado que existem receptores específicos para o glutamato, que desencadeia a sensação de delicioso, como existem para os outros sabores.
A saliva é produzida por três pares de glândulas salivares: parótidas, submandibulares e sublinguais. Quimicamente, a saliva é 99,5% água e apenas 0,5% solutos (sais e enzimas). Uma dessas enzimas é a amílase, que inicia na boca o processo digestivo do amido. Outra enzima importante é lisozima, que destrói as bactérias, para proteger a mucosa bucal, e ajuda na protecção dos dentes.
A secreção de saliva é permanente, em pequenas quantidades, para manter a boca humidificada e lubrificada; é estimulada por cheiros e imagem reais ou mentais e pelo contacto com alimentos. A saliva continua a ser segregada durante algum tempo após a deglutição dos alimentos, para promover a lavagem e a degradação de restos de comida, ajudando a proteger e a manter a saúde da boca. A produção de saliva depende do sistema nervoso. Daí que os quadros de ansiedade nos promovam a sensação de boca seca (diminuição da produção). A visão de alimentos, os cheiros a comida e os estímulos visuais de que gostamos estimulam a sua secreção, traduzida na famosa «água na boca». A sensação de boca seca estimula a hidratação (beber água). Este conceito é importante, pois é frequente encontrar feridas e ressecamento na boca das pessoas desidratadas, pois a sua secreção de saliva é nula ou reduzidíssima.
A mastigação é o processo de reduzir os alimentos a formas mais pequenas, de forma a conseguirmos extrair os nutrientes que neles se encontram. A digestão inicia-se na boca, através da degradação dos alimentos pela mastigação e da sua transformação pela acção das enzimas digestivas presentes na saliva. A mastigação com calma e muitas vezes (entre 16 e 32), permite uma maior produção de saliva, favorece a criação duma massa suficientemente lubrificada, capaz de ser deglutida sem esforço, e ajuda a transformar os nutrientes sensíveis às enzimas presentes na saliva. A língua, com as suas capacidades de movimento, coloca os alimentos para serem triturados pelos dentes, permitindo ao mesmo tempo o efeito de mistura da saliva.
Por todas as razões que foram evocadas, dá que pensar quando vemos pessoas que não mastigam a comida convenientemente, pois estão dalguma forma a ingerir alimentos que não vão ser aproveitados e, quando o são, deve-se ao grande esforço que o aparelho digestivo faz para deles tirar algum proveito. Este esforço é muitas vezes traduzido em alterações da função ou da morfologia do aparelho digestivo.
Saúde!
8 comentários a “A língua, a saliva e a mastigação”
[…] O corpo humano possui dois tipos de glândulas hormonais: as endócrinas e as exócrinas. As glândulas endócrinas segregam hormonas que são transportadas pelo sangue e sistema linfático e consistem na hipófise, na tiróide, nas paratiróides, nas suprarrenais, na epífise e no timo. As glândulas exócrinas são as que segregam substâncias para as cavidades com contacto directo com o exterior, ou diretamente para o exterior; é o caso das glândulas sudoríparas, das sebáceas, das mucosas e das digestivas [1, 2, 3]. […]
[…] água faz parte de todos os líquidos corporais: saliva [11], suco gástrico [5], bílis [12], suco pancreático [13], etc. que participam activamente na […]
[…] baixo das anteriores. Assim sendo, a faringe faz simultaneamente parte do aparelho digestivo [2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10] e do aparelho respiratório [1, 11, […]
[…] iodo é eliminado pela tiróide [1], pelos rins [4], pela saliva [5] e pelas glândulas digestivas; no entanto, a libertação pela saliva e pelas glândulas digestivas […]
[…] de alimentos, pois, durante a digestão, a produção de calor no aparelho digestivo [4, 5, 4, 7, 8, 9, 10, 11, 12] é significativa, devido às inúmeras reacções que aí ocorrem; e o sistema […]
[…] para as cordas vocais [3]. A orofaringe é revestida por mucosa e tem a parte muscular da língua [4] e do pescoço para conduzir e empurrar os alimentos para o esófago, e para fechar a entrada da […]
[…] O paladar [1] é um dos nossos cinco sentidos e permite reconhecer os sabores das substâncias colocadas em contacto com as papilas gustativas presentes na língua [2]. […]
[…] A glote faz parte da laringe, sendo a parte inicial à frente das cordas vocais [2], enquanto a epiglote faz parte da orofaringe [3], situada por trás da língua [4]. […]