Por Ana Raimundo Santos
É certo e sabido que, em Portugal, até há bem poucos anos, era raro alguém ser investigado e julgado por corrupção. É igualmente certo e sabido que muito poucos foram aqueles cujos julgamentos culminaram numa condenação efectiva, com direito a pena de prisão e tudo.
Ora, quando um político é investigado e detido por suspeita de corrupção, o povo levanta-se, aplaude-se e regozija-se, numa manifestação clara e inequívoca de esquizofrenia popular conjunta. Este estado de loucura colectiva aumenta exponencialmente, quando o arguido em causa é um ex-primeiro-ministro alvo de antipatia generalizada.
Consigo compreender a euforia do povo no primeiro instante em que sente que, finalmente, está a fazer-se justiça.
Mas, meus senhores, é tempo de assentar os pés no chão e perceber a verdade cruel e inegável por trás de tudo isto: o arguido em causa foi primeiro-ministro deste País durante seis anos!!!
Seis anos??? Sim, seis anos!
Ou seja, para além de ter sido eleito, foi reeleito!!!
É verdade, os senhores que hoje clamam justiça, que aplaudem de pé a prisão preventiva de José Sócrates, parem para pensar numa coisa simples: por mais culpado que seja, aquele homem não se elegeu a si próprio — foi eleito e reeleito pelo povo que agora o julga na praça pública e já o condenou, antes de quem de direito o fazer.
Não, esta crónica não é uma defesa de José Sócrates, é antes uma chamada de atenção e um apelo à consciência dos que me lêem para que exerçam os seus deveres e direitos cívicos de forma consciente e coerente.
Votar e eleger um político é validar até ao final do mandato a sua atuação e as suas decisões.
Reelegê-lo é validar o mandato anterior e pedir, se não melhor, pelo menos mais do mesmo.
Podemos espernear à vontade, mas a verdade é que temos os políticos que escolhemos!
E o resto é conversa!
Pensemos nisto!