Por Sara Teotónio Dinis
13 de Dezembro de 2013, Sexta-feira
São 12h30. Estamos no Salão Nobre, a ouvir uma apresentação sobre os desequilíbrios do sódio. Gostava de ter atenção para seguir atentamente o que a colega está a explicar, mas não consigo.
Fui convidada para três jantares hoje à noite — um com os meus amigos, na pizaria; outro com os meus colegas, no apartamento do Cravo; outro em Oiã, com os trabalhadores do centro de saúde. Penso que vou honrar o compromisso assumido com o primeiro convite e vou até Oiã.
Não sei aonde vou parar na Terça-feira, no meu dia da escolha. Sinto-me como a Katniss no dia da Ceifa [1]. Posso ter sorte… Posso ter azar. Temos de ter esperança nas coisas boas, mas preparar-nos ao mesmo tempo para o pior.
A colega continua a falar do sódio e da hormona antidiurética e eu só ouço as suas palavras esporadicamente.
Para a semana, por esta altura, vou estar a caminho de Lisboa para ir apanhar um voo com o Ninja.
Nestas noites, tenho acordado de madrugada e não consigo voltar a adormecer. Gostava que os meus amigos falassem mais comigo, sobre outras coisas. Mas, como meus colegas que já escolheram, eles não sabem o que dizer a alguém que vai escolher no último dia; então não dizem nada de todo.
Este silêncio que me dói ainda assim não consegue afogar a minha ânsia.
17 de Dezembro de 2013, Terça-feira
O que me terá acontecido?
Nota do editor: Depois da redacção desta crónica, a Sara tornou-se, no dia 17 de Dezembro de 2013, Terça-feira, médica interna de Medicina Geral e Familiar. Sara, os meus parabéns pelo caminho escolhido e votos de que encontres muitas flores na beira da estrada, mas também algumas pedras, para as guardares e construires o teu castelo.
4 comentários a “”
Felicidades Sara! Para o ano é a minha vez de escolher..
[…] é segredo que vim para a Lousã trabalhar. Dado que, durante os quatro anos mínimos de duração da minha especialidade, eu vou passar […]
[…] que o leitor pense que eu já pirei e ainda só passaram duas semanas de internato, pois que estou para aqui há já três parágrafos a falar de um corredor, eu […]
[…] sou médica interna [1]. Cumpro um horário laboral de quarenta horas. A actividade que desenvolvo depende do local onde me […]