Por Gustavo Martins-Coelho
As meninas que vendem tecnologia parecem escolhidas a dedo.
Um dia, apareceu-me uma bastante simpática à porta de casa, a querer vender-me uma assinatura da TVCabo. Isto passou-se há tanto tempo que, nessa altura, ainda havia TVCabo [1]. Apresentou-me as vantagens todas de ter oitenta canais e eu respondi-lhe:
— Sabe, eu tenho uma namorada — as pessoas ficam sempre um pouco desconcertadas quando começo a falar, porque não entendem bem aonde pretendo chegar. Às vezes, nem eu. Prossegui — ao contrário de mim, que sou pobre e não tenho dinheiro para ter TVCabo, ela é rica e tem um ror de canais. Às vezes, quando a visito, ligo a televisão, corro os oitenta canais e descubro que não está a dar nada de interesse. Em minha casa, quando ligo a televisão, descubro que não está a dar nada de interesse ao fim de quatro canais, apenas. Qual lhe parece mais eficiente?
A menina percebeu que eu era um caso absolutamente perdido, deitou-me um olhar de compaixão sofrida e foi à sua vida.
Mais tarde, nos inícios da «banda larga», telefonaram-me para propor esse serviço: pagava uma mensalidade e tinha direito a uma pen e ao uso da Internet em qualquer lugar, a qualquer hora. Acho que era do Sapo [2]. Se fosse agora, seria do Meo [3].
Tinha Internet em qualquer lado, mas só em Portugal! Ou melhor, no estrangeiro, aplicavam-se as mesmas tarifas estratosféricas de roaming que vigoravam nos restantes serviços móveis. Porém, nessa altura, eu vivia no estrangeiro. Dei conta disso à menina, que me esclareceu que podia comprar a pen por duzentos euros, sem contratar o uso da Internet, e depois, se um dia voltasse a residir em Portugal, já tinha o equipamento e era só activar o serviço. Perguntei-lhe:
— Deixe ver se percebi: está a propor-me que compre, por duzentos euros, uma coisa de que não preciso, para, se um dia vier a precisar, não ter de comprá-la?!
Ela teve a lata de me responder que sim, que era isso!!!
O que é que se responde a uma pessoa destas?!
2 comentários a “Vou fazer-te uma proposta indecente…”
[…] Em boa verdade, nos call centers não se faz só atendimento aos clientes; também se fazem chamadas a putativos clientes, na esperança de os convencer a adquirir um produto ou serviço. É o chamado telemarketing. Quando me ligam dum call center, para me fazer telemarketing, sinto-me logo muito mais international, isto antes de passar à fase em que acho que me julgam desprovido de bom senso [3]. […]
[…] Em boa verdade, nos call centers não se faz só atendimento aos clientes; também se fazem chamadas a putativos clientes, na esperança de os convencer a adquirir um produto ou serviço. É o chamado telemarketing. Quando me ligam dum call center, para me fazer telemarketing, sinto-me logo muito mais international, isto antes de passar à fase em que acho que me julgam desprovido de bom senso [3]. […]