Por Hugo Pinto de Abreu
Sejam muito bem-vindos ao… Consultório [1]. Neste espaço, os ouvintes estarão já habituados a ouvir falar sobre Medicina, Psicologia, Enfermagem… Todavia, às Quintas-feiras, poderão contar comigo para lhes falar de… Economia. E esta é, pelo menos eu assim penso, uma ciência tão importante como a Medicina ou a Psicologia. Também merecia, portanto, o seu Consultório…
Deste lado, terei muito gosto em partilhar consigo o que sei e o que penso sobre a fascinante ciência económica. O meu nome é Hugo Pinto de Abreu, sou estudante de doutoramento na Faculdade de Economia do Porto e Mestre em Finanças e Fiscalidade por esta mesma faculdade.
Fiz, há momentos, uma afirmação que pode surpreender e até chocar: disse que a Economia é tão importante como a Medicina ou a Psicologia. E acrescento: tão importante como a Engenharia, tão importante como a Informática, et cetera.
Parece uma afirmação ousada, num tempo em que olhamos com cepticismo para as ciências sociais; e muito mais ainda para as ciências económicas. Muitos cidadãos perguntam-se, não sem razão, de que serviram todos os cursos de Finanças, todos os MBA dos gestores do Lehman Brothers e doutras instituições que provocaram ou não souberam prever a crise financeira de 2008, da qual ainda sofremos as consequências.
Neste contexto, no nosso contexto, a Economia, a Política, o Direito, a História… parecem coisas relativamente sem valor, ciências secundárias ou terciárias. Temos dificuldade em reconhecer-lhes um valor efectivo. Reconhecemos valor a obras de engenharia que melhoram tangivelmente a nossa vida. Reconhecemos valor ao desenvolvimento informático, que nos levou das disquetes aos discos externos, com capacidades que parecem multiplicar-se a cada ano. Valorizamos o enfermeiro que administra a vacina que pode salvar de doenças que outrora eram verdadeiras calamidades.
E, claro, valorizamos o médico, de cujo conhecimento depende a nossa saúde; por vezes mesmo a nossa vida.
Sendo ainda mais explícito e indo ao mais íntimo deste pensamento, talvez tenhamos por vezes a impressão de que há, numa sociedade como a nossa, profissões e tarefas que lidam com problemas reais, tangíveis. E depois parece haver uma crosta de profissões que realizam um trabalho mais ou menos fictício e dispensável, que só existe, porque a sociedade quis que existisse.
Não creio, sinceramente não creio, caro leitor, que tal visão esteja correcta. A Medicina salva vidas? É certo! Mas, o que seria da Medicina se não houvesse, por exemplo, saneamento básico? Ora, foi preciso criar as condições económicas para que todos pudessem ter saneamento básico e, apesar de toda a tecnologia existente, são muitos os países onde, por razões políticas e/ou razões económicas, muitos cidadãos não têm acesso a saneamento básico.
A Engenharia tem grande valor? É certo. Porém, já dizia Cristo:
Quem de vós, querendo fazer uma construção, antes não se senta para calcular os gastos que são necessários, a fim de ver se tem com que acabá-la? Para que, depois que tiver lançado os alicerces e não puder acabá-la, todos os que o virem não comecem a zombar dele, dizendo: Este homem principiou a edificar, mas não pode terminar.
Estas palavras do Evangelho de S. Lucas descrevem uma situação que, infelizmente, todos conhecemos demasiado bem.
De facto, a existência dum Estado de direito, duma economia relativamente próspera e estável, duma certa eficiência administrativa, dum sistema financeiro que, apesar deste ou daquele escândalo, funciona e funciona bem, são coisas que já damos por adquiridas, mas que não devemos deixar de valorizar.
Na próxima Quinta-feira, falaremos dum saber, duma disciplina que tem sido, entre nós, tão desprezada, tão desvalorizada, numa atitude bem sintomática desta falta de consideração que existe e persiste sobre actividades de planeamento, sobre actividades de administração: na próxima quinta-feira, falaremos de Contabilidade. Até lá!
3 comentários a “Boas-vindas”
[…] passada semana [2], falávamos de ciências e de disciplinas que tendemos a desvalorizar e que encaramos como um peso, […]
[…] amigo Hugo Pinto de Abreu [1, 11] intuiu a resposta de forma espantosa na sua primeira crónica [12] do «Consultório» [1]. Disse […]
[…] nosso primeiro «A Quinta da Economia» [1], procurei tentar responder às dúvidas ou argumentos daqueles que encaram a Economia, a ciência […]